O Caminho de Santiago na sua rota portuguesa está repleto de vestígios históricos e, entre os mais destacados, encontram-se as suas pontes antigas. Muitas, de origem romana ou medieval, facilitaram a passagem de peregrinos ao longo dos séculos e continuam hoje a ligar caminhos e culturas.
Na Mundiplus, a tua agência do Caminho de Santiago, apresentamos-te uma seleção das pontes mais emblemáticas que encontrarás no Caminho Português. Cada uma delas tem a sua própria história, estilo arquitetónico e ligação especial à rota jacobeia.
Índice de contenidos
- 1 Ponte de Peniche (Tomar)
- 2 Ponte medieval de Barcelos
- 3 Ponte Romana de Ponte de Lima
- 4 Ponte romana de Rubiães
- 5 Ponte das Febres (São Telmo)
- 6 Ponte Internacional de Tui
- 7 Ponte de Ponte Sampaio (Arcade)
- 8 Ponte do Burgo (Pontevedra)
- 9 Ponte romana de Caldas de Reis (Bermaña)
- 10 Ponte de Cesures (Pontecesures)
- 11 Pontes emblemáticas noutras rotas do Caminho de Santiago
Ponte de Peniche (Tomar)
Na cidade portuguesa de Tomar, antiga sede da Ordem dos Templários, o peregrino abandona a urbe cruzando uma belíssima estrutura medieval sobre o rio Nabão. É uma obra gótica singular em pedra com dois arcos ogivais.
Construída no séc. XV, esta ponte testemunha o rico legado templário de Tomar e oferece vistas pitorescas sobre a cidade.
Ponte medieval de Barcelos
Esta ponte gótica do século XIV liga Barcelos à aldeia de Barcelinhos, atravessando o rio Cávado. Foi construída entre 1325 e 1330 por ordem do Conde D. Pedro e caracteriza-se pelos seus cinco arcos em pedra, sendo o arco central mais alto que os restantes.
Para além da sua importância peregrina, teve um papel estratégico nas feiras medievais de Barcelos, refletindo a prosperidade comercial da vila. Declarada Monumento Nacional em 1910, continua hoje a impressionar quem a atravessa pela sua elegância e legado histórico profundamente ligado ao Caminho.
Ponte Romana de Ponte de Lima
Em Ponte de Lima – considerada a vila mais antiga de Portugal – encontra-se um dos exemplos mais emblemáticos de toda a rota. Esta obra, iniciada no séc. I d.C. durante o império de Augusto, fazia parte da via romana XIX que ligava Braga a Astorga.
Do antigo traçado romano conservam-se alguns alicerces e arcos. No entanto, a maior parte da sua estrutura data do séc. XIV, altura em que foram acrescentados quinze arcos medievais (dois deles atualmente soterrados) para reforçar as defesas da vila. O resultado é uma longa ponte de pedra que combina troços romanos e medievais, símbolo inconfundível de Ponte de Lima.
Cruzá-la é atravessar o lendário “rio do esquecimento” da mitologia romana, uma passagem que infundia temor às antigas legiões e que Décimo Júnio Bruto ousou atravessar, desmistificando o mito. Para os peregrinos de hoje, representa um marco precioso do Caminho Português, um lugar de passagem obrigatória há séculos entre duas das etapas mais exigentes da rota.
Ponte romana de Rubiães
Nas montanhas do norte de Portugal, a caminho da fronteira com Espanha, a Ponte de Rubiães permite aos peregrinos atravessar o rio Coura num ambiente rural encantador.
Tal como o exemplo anterior, fazia parte da importante via XIX que ligava Braga a Astorga na época romana. Embora as suas origens romanas possam remontar ao séc. II, a base atual é de estrutura medieval em cantaria, composta por três arcos de volta perfeita, sendo o central o mais largo.
Foi restaurada em épocas posteriores e está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1961, em reconhecimento do seu valor histórico.
Ponte das Febres (São Telmo)
Entre a localidade portuguesa de Valença do Minho e a galega Tui, o Caminho passa por uma pequena ponte carregada de significado espiritual: a Ponte das Febres.
Esta modesta estrutura de um só arco de pedra está ligada à lenda do santo padroeiro de Tui. Foi aqui que São Telmo adoeceu gravemente com febres em 1251 enquanto regressava em peregrinação desde Santiago. Uma lápide comemorativa numa das extremidades recorda o acontecimento com a inscrição: “Caminhante, aqui adoeceu São Telmo em abril de 1251. Pede-lhe que fale com Deus por ti.”.
Segundo a tradição, o santo teve de ser levado de volta a Tui, onde faleceu pouco depois; hoje os seus restos repousam na catedral de Tui e São Telmo é venerado como protetor da cidade e dos navegantes.
De aspeto simples, foi equipada com uma passadeira de madeira para facilitar a passagem dos caminhantes. Junto a ela foi colocado um marco metálico onde os peregrinos podem deixar os seus pedidos ao santo.
Ponte Internacional de Tui
A entrada do Caminho Português em Espanha faz-se atravessando a imponente Ponte Internacional sobre o rio Minho, que liga Valença (Portugal) a Tui (Galiza).
Inaugurada em 1886, esta estrutura metálica em treliça (318 metros de comprimento) foi projetada pelo engenheiro espanhol Pelayo Mancebo, inspirado nas obras de Gustave Eiffel. Na verdade, a sua silhueta de ferro, com os característicos arcos em forma de caixa, levou à crença popular – errada – de que Eiffel ou os seus discípulos estiveram envolvidos no projeto.
Construída por uma empresa belga, foi concebida como um viaduto de uso misto: pela plataforma inferior circulam veículos e peregrinos a pé, enquanto por cima passa a via férrea.
A inauguração oficial celebrou-se com um ato simbólico a 25 de março de 1886, quando dois comboios, um de cada país, se encontraram a meio perante uma multidão expectante. Este acontecimento marcou o fim da era das barcaças e ferries para atravessar o Minho, iniciando uma nova etapa de ligação direta entre a Galiza e o norte de Portugal.
Para muitos peregrinos, este é o ponto onde começa o seu caminho. O Caminho Português desde Tui (cerca de 115 km até Santiago) permite obter a Compostela, e este ponto marca o quilómetro zero dessa rota. Atravessá-lo a pé significa literalmente ter um pé em Portugal e outro em Espanha, pois no meio do percurso estão gravadas duas pegadas que assinalam a fronteira simbólica.
Para além da sua função prática, tornou-se um emblema fronteiriço do Caminho: une dois países, duas culturas e os peregrinos de ambas as margens no seu avanço conjunto rumo a Santiago.
Ponte de Ponte Sampaio (Arcade)
Após atravessar a ria de Vigo pelo interior, o percurso chega à aldeia de Ponte Sampaio, em Pontevedra, onde cruza o rio Verdugo por uma ponte carregada de história. Neste caso, também tem origens romanas, embora a estrutura atual seja medieval, de traçado alongado e composta por 10 arcos de pedra.
Este cenário bucólico, rodeado de águas calmas e vegetação, foi curiosamente testemunha de um episódio bélico: aqui teve lugar a famosa batalha de Ponte Sampaio em 1809, durante a Guerra da Independência, na qual as milícias galegas derrotaram as tropas napoleónicas do marechal Ney. Num dos seus extremos existe um monumento comemorativo aos heróis daquela contenda.
Hoje em dia, oferece uma imagem de postal, com barcos de pescadores ainda encalhados na margem e vistas que parecem saídas de outro tempo.
Os peregrinos atravessam-na ao deixar para trás a localidade de Arcade, pisando sobre as mesmas pedras por onde circularam romanos, camponeses medievais e combatentes pela liberdade.
Ponte do Burgo (Pontevedra)
À entrada da cidade de Pontevedra, os peregrinos percorrem a Ponte do Burgo para atravessar o rio Lérez. De origem medieval (século XII), deu nome à própria Pontevedra, derivado de “pons veteris” ou ponte velha. Substituiu uma antiga estrutura romana da via XIX que já estava em ruínas nessa época.
Construída em pedra e com 11 arcos de volta perfeita ao longo de cerca de 158 metros, foi durante séculos um dos exemplos mais importantes da Galiza, controlando o acesso norte-sul pela costa. Atualmente é de uso pedonal e foi restaurada com belas iluminações e passadiços.
Um pormenor muito significativo é que entre os seus arcos, sobre os pilares, se podem apreciar várias conchas de peregrino esculpidas, símbolo inequívoco do Caminho de Santiago. Esta decoração recorda a sua antiquíssima ligação com as peregrinações jacobeias.
Ao atravessá-la, entra-se diretamente no centro histórico pontevedrés pela antiga rúa Real. Muitos peregrinos param para fotografar as conchas incrustadas no granito, conscientes de estar a pisar um troço histórico do Caminho Português que viu passar milhares de romeiros ao longo dos séculos.
Ponte romana de Caldas de Reis (Bermaña)
Na vila termal de Caldas de Reis (Pontevedra) encontra-se a Ponte de Bermaña, que cruza o rio do mesmo nome. Construída originalmente em época romana, conserva a estrutura típica de três arcos de volta perfeita, embora o atual alvenaria e o pavimento superior datem da Idade Média.
De aspeto medieval, está equipada com parapeitos de pedra e pequenos recuos laterais que serviam para a passagem de peões. Todos os anos, centenas de peregrinos passam por aqui a caminho de Santiago, pois situa-se na calle Real, via principal que atravessa a localidade.
Atravessá-la oferece ainda um ambiente pitoresco: de um lado ouvem-se as águas da fonte termal de Caldas e do outro lado estende-se o centro histórico com a sua igreja e jardins. Sem dúvida, é um exemplo da herança romana no Caminho Português, perfeitamente integrado na trama urbana atual.
Ponte de Cesures (Pontecesures)
A poucos quilómetros da meta compostelana, o Caminho Português salva o caudaloso rio Ulla através da Ponte de Cesures, entre os municípios de Pontecesures (Pontevedra) e Padrón (A Coruña).
As suas origens remontam ao século I a.C., em época romana (cerca do ano 25 a.C.). Foi construída como alternativa para atravessar o Ulla dentro da via XIX e possui o característico desenho de obra romana em pedra. Consta de vários arcos de volta perfeita – atualmente são seis visíveis, embora originalmente tivesse mais vãos – e foi reforçada e remodelada ao longo dos séculos.
Apesar da longa passagem do tempo, mantém um excelente estado de conservação e continua em uso diário, integrada na estrada N-550 que liga Pontevedra a Santiago. À noite, a iluminação da vila e o seu reflexo na água oferecem uma imagem preciosa.
Historicamente, foi um ponto nevrálgico: por aqui entravam as rotas comerciais romanas para Iria Flavia. Séculos mais tarde, na Idade Média, os bispos de Santiago vigiavam esta passagem fluvial estratégica. Não longe daqui foram erguidas as Torres do Oeste em Catoira para defender a via de incursões vikings.
Para os peregrinos, este ponto marca simbolicamente o fim das grandes dificuldades geográficas. Depois de atravessá-lo, só restam alguns quilómetros até Padrón e a reta final para Santiago.
Pontes emblemáticas noutras rotas do Caminho de Santiago
O Caminho Português não é a única rota jacobeia com pontes históricas notáveis. Noutros itinerários de peregrinação também encontramos obras de grande interesse cultural. Por exemplo:
- No Caminho do Norte, quem fizer o Caminho do Norte Ribadeo atravessará a ria através da longa Ponte dos Santos, que une a Astúrias à Galiza e oferece vistas espetaculares do estuário.
- Igualmente, quem começar o Caminho de Santiago desde Bilbao depara-se com 2 exemplos emblemáticos: a Ponte Pênsil de Biscaia (transbordador de Portugalete, Património Mundial) e a histórica Ponte de San Antón sobre o rio Nervión, no centro de Bilbao, imortalizada no brasão da cidade.
Estes são apenas alguns exemplos que demonstram que todas as rotas para Santiago contam com pontes memoráveis que ligam caminhos e pessoas, servindo de elo entre o passado e o presente na peregrinação.